A divulgação da arquitetura é fortemente influenciada pela qualidade das imagens partilhadas, que nem sempre refletem a qualidade do projeto que possibilitou a construção. Muitas vezes chegam a ser desenvolvidas algumas intervenções que pretendem criar excelentes momentos fotográficos esquecendo o verdadeiro propósito desta arte.
É neste sentido que hoje a Homify 360º lhe apresenta uma habitação excepcional, desenvolvida através de um processo criativo extremamente interessante. Despoletada pelo interesse do próprio arquitecto numa ruína apelidada de monte de pedras
, nasceu uma casa que procurou adaptar-se às características do lugar, criando uma atmosfera única.
A qualidade do trabalho desenvolvido pela equipa liderada pelo arquitecto Pedro Quintela já foi anteriormente partilhada aqui na Homify 360º. Preconizando a lógica criativa dos elementos naturais que nos rodeiam, o atelier baseia a sua metodologia projetual em três fases fundamentais: Uma primeira fase de adaptação, marcada pelo aparecimento de respostas espontâneas ao lugar, seguida de uma fase de transformação apoiada na reflexão e finalmente a cristalização que completa o desenvolvimento do sistema criativo.
Situada no centro da aldeia de Malveira da Serra, na base da Serra de Sintra, a ruína debruçava-se sobre o Oceano Atlântico, acompanhada da exposição solar vinda de Sul. As visitas ao lugar acabaram por despertar o interesse do arquitecto, que rapidamente finalizou a compra do imóvel com os proprietários deste espaço. Apresentando um nível de degradação extremamente desafiante, a antiga casa rural desenvolvia-se através de uma forma de U
, capaz de conformar um pequeno pátio anteriormente utilizado para fins agrícolas.
Dadas as características do lugar, a intervenção iniciou-se com um processo de limpeza
das ruínas que acabou por assumir um papel preponderante ao longo do desenvolvimento de todo o projeto. Esta primeira fase permitiu um contacto directo com o espaço, possibilitando um conhecimento mais profundo de todas as áreas. Foi a partir destas descobertas que o arquitecto optou focar a sua intervenção numa reinterpretação da obra dando-lhe uma nova vida.
Apesar de apenas algumas paredes de pedra tenham sobrevivido à acção do tempo, a vontade de preservar a identidade e as memórias da construção original, levou a que a recuperação se desenvolve-se com a utilização de materiais locais, como a madeira de pinho e o granito da região. No entanto, grande parte da matéria prima assentou nos materiais encontrados no próprio lugar, integrados em sítios diferentes, foi-lhes dada uma nova vida, através de novas funções.
Grande parte dos interiores nasceu a partir da própria arquitectura do lugar, em oposição à típica integração de mobiliário numa fase pós projetual. O resultado são ambientes que conformam uma combinação equilibrada entre o contemporâneo e o rústico, sempre numa linguagem simples e modesta.
O branco das paredes, que complementa o excelente trabalho desenvolvido ao nível da iluminação natural, é contraposto pela utilização abundante da madeira, tornando o espaço mais caloroso. A lareira, extremamente bem desenhada, atravessa o duplo pé direito da zona de estar, criando ao mesmo tempo alguma privacidade na zona de mezzanine mais resguardada.
A zona de refeições é acompanhada de um dos detalhes mais interessantes de todo o projeto. Criando permeabilidade visual, foi integrado uma espécie de tapete de vidro
no pavimento. Além de permitir uma maior fluidez ao nível da iluminação, este pormenor torna visível a estrutura em madeira de pinho maciça.
Uma combinação perfeita entre tradição e modernidade! A harmonia estabelecida entre materiais locais e calorosos e novos equipamentos contemporâneos cria uma atmosfera única nesta divisão. A qualidade do ambiente criado na cozinha resulta também do acesso visual que se criou com a sua envolvente. Através da relação estabelecida com a sala, pátio, sala de jantar e mar, este espaço é sem dúvida o coração da casa.
Graças à filosofia projectual do atelier de Pedro Quintela, a montanha de Sintra está dentro da própria casa. Acompanhando o quarto principal da habitação, esta parede em pedra foi cuidadosamente limitada antes do encontro com a cobertura, permitindo uma circulação do ar eficiente. Naturalmente os restantes elementos do quarto foram materializados numa linguagem simples e neutra, deixando a beleza natural da arquitectura ser protagonista do espaço.
A dedicação do arquitecto, que se deslocou para uma casa vizinha ao longo de todo o processo, é notória no resultado final e em todos os detalhes da habitação. A vontade de se integrar e familiarizar com todo o contexto que envolve o projeto, permitiu captar o espírito do lugar
que assumiu um papel preponderante na construção da obra. De facto, só uma análise exaustiva de um espaço em ruínas possibilitou a criação de um espaço harmonioso e acolhedor, como já nos tem habituado o arquitecto Pedro Quintela.