No livro a Arquitetura da Felicidade, Alain de Botton afirma que a beleza é a conciliação de opostos, referindo-se ao modo como certos materiais com propriedades distintas estabelecem uma relação harmoniosa e poética na qual emprestam suas qualidades materiais aos edifícios e contribuem mutuamente para realçar suas características opostas.
Na arquitetura, além de recursos de composição, como a forma, escala, aberturas e o manejo da luz natural, as qualidades tectônicas ou materiais são essenciais para a materialização do discurso arquitetônico e de suas metáforas, dentre estas qualidades materiais, destaca-se a textura e suas propriedades sensíveis.
Neste artigo, apresentamos alguns exemplos do uso inteligente de texturas que materializam a beleza referida por Alain de Botton, na qual qualidades sensíveis opostas convivem em harmonia e criam uma relação poética de contribuição mútua.
Neste projeto de decoração com a assinatura de Guilherme Torres, podemos destacar o mutualismo da convivência de materiais distintos como mdf pintada de azul e tijolinho inglês. O predomínio de tijolinhos contribui para a criação de uma atmosfera intimista, enquanto que o contraste da madeira mdf pintada de azul reforça as qualidades sensíveis dos tijolos ingleses, como suas cores de múltiplos tons e sua superfície delicadamente áspera.
Neste projeto de Karin Moraes, diversos materiais rústicos como madeira, tijolinho à vista e pedra convivem harmoniosamente e recriam a atmosfera de uma casa de campo, emprestando ao projeto suas qualidades sensíveis. O contraste com a transparência do vidro e a superfície branca e lisa do forro, realçam o aspecto mais natural e rústico destes materiais.
Devido a suas características naturais de maleabilidade, o concreto permite a criação de infinitas formas e texturas. Neste projeto o concreto aparente ganhou uma textura mais áspera com linhas horizontais, que além de reforçar a horizontalidade do edifício, confere-lhe um aspecto mais natural, suavizando sua presença na paisagem. No interior, as superfícies lisas e opacas brancas e as superfícies transparentes dos planos de vidro potencializam ainda mais as qualidades materiais do concreto aparente e sua aparência monolítica.
Neste projeto, materiais com qualidades opostas, como o concreto aparente, a madeira e o metal, com uma aparência de pátina, convivem em forma de mutualismo. Além do contraste de texturas destes materiais, destaca-se principalmente o contraste entre a paisagem natural externa e o aspecto industrial do revestimento metálico e sua superfície irregular.
O minimalismo destaca-se pela busca da máxima expressividade com o emprego mínimo de meios e também pela abstração. Normalmente, como neste projeto, o minimalismo utiliza superfícies neutras, principalmente brancas, com o objetivo de contrastar com a sombra e realçar a presença da luz natural. Este predomínio de superfícies brancas também visa a realçar apenas o essencial. Por esta razão os ambientes minimalistas muitas vezes buscam uma integração com os espaços externos para realçar as qualidades das paisagens naturais.
Neste projeto de FCM Arquitetura, diversas e inusitadas texturas complementam a dialética arquitetônica. A água da piscina reforça qualidades sensíveis como transparência e instabilidade e o gramado do jardim de formas onduladas reforça a irracionalidade da natureza, que se contrapõem à racionalidade e à estabilidade do ambiente construído.
A qualidades sensíveis mais notórias do vidro são a transparência e a leveza, que podem ser utilizadas para causar efeitos surpreendentes, como neste projeto, no qual os planos de vidro, além de trazerem a paisagem externa para o interior da casa, criam a ilusão de que a cobertura flutua.
No design de interiores é muito comum a utilização de painéis de madeira. Neste projeto, a inventividade possibilitou a criação de um painel de madeira com ondulações, que além de contrastar com a superfície branca e lisa da parede, reforça a ideia de movimento.
A madeira é um material natural e portanto é a escolha de excelência para contrastar com materiais industrializados, como vidro, aço ou concreto. Neste projeto, o revestimento de madeira cria um ambiente intimista e aconchegante, que se contrapõe aos estímulos visuais midiáticos que recebemos frequentemente.
A arquitetura, através das metáforas de suas formas e materialidade, nos faz sugestões e nos inspira. Assim como a conciliação de materiais opostos resulta em beleza estética, como vimos nos exemplos acima, a conciliação de nossas diferenças só poderia resultar em relações mais fraternas e consequentemente num mundo mais aprazível.